sábado, 25 maio 2019 09:21

Os erros que não devemos cometer na cozinha

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Muitas vezes dedicamos uma atenção desmesurada na aquisição de alimentos frescos, naturais e biológicos.

A questão que se coloca é muito simples: de que adianta toda esta preocupação com a proveniência dos alimentos frescos — a romantização do natural — se na prática continuamos a cometer os mesmos erros fatais na nossa cozinha?

Vejamos:

1 — Compramos um ovo biológico e, em seguida, vamos estrelá-lo numa frigideira com película antiaderente. Esta película é um complexo sintético com moléculas comprovadamente disruptoras endócrinas e eventualmente carcinogénicas — os PFOA e PFOS.

2 — O remanescente do almoço ou jantar guardamos habitualmente num tupperware de plástico — com moléculas estabilizadoras dos polímeros de plástico como os bisfenóis (BPA) — e colocamos no congelador. Semanas depois vamos aquecer esse mesmo recipiente no micro-ondas, favorecendo a passagem destas moléculas para a comida que vamos depois ingerir.

3 — Carregamos todo os dias garrafas de plástico com água mineral de excelente qualidade. No entanto, essa mesma água esteve dentro dessa mesma garrafa durante semanas, senão meses, estagnada, em paletes, em armazéns, em contacto com os polímeros de plástico e as respetivas moléculas estabilizadoras. Ao ingeri-la estamos a aportar todas as substâncias nefastas que conseguiram passar para a água. Reparem: é ou não verdade que o conhecimento geral nos diz que não devemos deixar garrafas de plástico com água dentro dos nossos veículos, ao calor, e depois bebermos essa mesma água?

4 — Olhando para os carrinhos de compras da generalidade dos frequentadores dos supermercados, constatamos que há uma exacerbação no consumo de alimentos processados e embalados. Não quero aqui sequer abordar os famigerados aditivos alimentares, muitas vezes camuflados com nomes pomposos. Quero apenas focar-me na quantidade mirabolante de embalagens de plástico e de latas que são adquiridas.

5 — Dizem-nos que fazer barbecue, grelhados, é saudável. Até podia concordar se não constatasse que muitas pessoas usam, para ativar o carvão, acendalhas químicas, cujo fumo passa indefetivelmente para os alimentos que vamos ingerir de seguida. Pior, quando torramos os alimentos, particularmente os hidratos de carbono, forma-se acrilamida. A acrilamida é um subproduto tóxico, associado a vários tipos de cancro. É o equivalente à inalação do fumo do cigarro e à ingestão de carnes fumadas e processadas, classificadas pela OMS como perigosas para a saúde humana.

E esta lista podia continuar infinitamente. Podia falar dos detergentes e outros produtos de limpeza das bancas e utensílios de cozinha, dos pesticidas e outros fitoquímicos sistémicos e superficiais das frutas e legumes, do uso erróneo de gorduras em altas temperaturas, etc.

Na minha humilde opinião, a sociedade constringiu-se a viver numa bolha assética, química, com uma crença, um medo irracional, coletivo, de doenças infeciosas. A sua perda de contacto com a Natureza está a conduzi-la paulatinamente para um aumento exponencial do cancro e de doenças metabólicas.

Urge, então, mudar o paradigma:

Cozinhar a vapor.

Recuperar da dependência do consumo exagerado de proteína e gordura animal, rica em ácido araquidónico — ácido gordo PRÓ-inflamatório —, contornando a mais que evitável Low Grade Inflammation — a inflamação típica das pessoas com excesso de peso.

Ingerir menos cerealíferas e mais frutas e vegetais crus, ricos em antioxidantes.

Consumir mais peixe “azul”, rico em ómega 3 (EPA e DHA), com a preocupação sempre presente da sustentabilidade das espécies marinhas.

Comer quantidade menores de comida. Ao jantar comer ainda menos, para favorecer o sono.

Usar uma solução de bicarbonato de sódio a 2% (uma colher de chá para uma taça de água com frutas e vegetais), durante 15 minutos, para “descontaminar” a maioria dos fitoquímicos existentes na superfície.

Usar frigideiras de cerâmica e evitar arranhar a superfície, usando utensílios de madeira.

Usar recipientes de vidro Pirex.

Beber muita água da fonte (controlada microbiologicamente) e transportá-la, durante o dia, em recipientes de aço inoxidável 304 ou vidro sem chumbo.

Usar sacos de linho/algodão reutilizáveis para as compras dos vegetais frescos.

Fazer biocompostagem, separando os resíduos orgânicos não cozinhados para contentores próprios, com minhocas.

Estas são apenas algumas sugestões. Cabe a cada um trilhar o seu próprio caminho.

Ler 2590 vezes Modificado em sábado, 25 abril 2020 17:26
Ricardo Novais

Ricardo Novais é naturopata. Licenciado em Ciências Farmacêuticas, com pós-especialização em Análises Clínicas e detentor de pós-graduações em Terapias Naturais e Complementares e Acupuntura Integrativa, Ricardo dá aulas de farmacologia e nutrição integrativa em várias escolas de saúde do país.

O seu percurso pela saúde preventiva começou há vários anos, com a convicção de que a base da nossa saúde está numa alimentação natural, ou seja, o menos processada possível, aliada ao exercício físico e à eliminação/redução do stress diário. Tentando voltar à Mãe Natureza, conseguiu integrar os seus conhecimentos científicos com o poder curativo da Terra, proporcionando alternativas a nível alimentar, nutricional, e terapêutico.

Rúbrica “Cozinhar com amor, naturalmente…”

Mercê de um estilo de vida moderno, o ser humano passou a estar mais sujeito aos tóxicos externos, provenientes da poluição do ecossistema, da alimentação industrial, processada, e do uso exacerbado de medicamentos e aos tóxicos internos, produzidos pelo organismo quando se encontra em permanente stresse.
Devemos saber reconhecer os sinais que o corpo evidencia quando começa a ficar sem capacidade de eliminar os excessos. Devemos estar alertas para os perigos que podem sobrevir dessa intoxicação.
É fundamental conhecermos as ferramentas adequadas para favorecer a eliminação dos resíduos acumulados a nível celular e tecidular.
Da paleodieta ao crudivorismo, vamos mostrar comida simples e fácil de confecionar. Com um enfoque na conjugação de nutrientes e sabores e na transformação acertada dos alimentos, vamos proporcionar a melhoria da digestão, otimizar a assimilação dos macro e micronutrientes, potenciando assim a performance do corpo humano e a eliminação das toxinas.
Tudo sem abrir mão duma gastronomia rica e saborosa.