sábado, 06 abril 2019 19:08

Keysi Fighting Method - o método de defesa pessoal urbano

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Cláudio Ferreira Cláudio Ferreira

O Keysi Fighting Method é um método de defesa pessoal urbano que não é limitado por nenhum sistema nem regras, unindo a mente e o corpo, favorecendo o crescimento pessoal através do desenvolvimento dos instintos inatos ao ser humano.

Criado por Justo Dieguez, este método surge com o intuito de reforçar a autoestima e autovalorização dos seus praticantes, transformando em pontos fortes as fraquezas físicas, mentais e emocionais.

Cláudio Ferreira, Master Instructor há dois anos, abriu-nos a porta do mundo Keysi e esclareceu tudo sobre este método de defesa pessoal urbano.

O Keysi não foi o primeiro estilo de luta que praticou. Qual a sua experiência anterior em métodos de luta?

Comecei no Karaté Shotokan que pratiquei dos 12 aos 17 anos. Depois, apercebi-me que não me revia no Karaté e deixei por alguns anos as artes marciais. Foi por volta dos 24, 25 anos que conheci e me dediquei ao Savate, ou boxe francês, o qual fiz durante cerca de 12 anos. Entretanto, em 2011, através de uns amigos de outras artes marciais, conheci o Keysi e, a partir de 2012, decidi deixar o Savate e dediquei-me apenas ao Keysi que pratico desde aí, tendo começado a dar aulas em 2014.

O que o levou a trocar o Savate pelo Keysi?

O Savate é um desporto de combate, ou seja, sobe-se a um ringue, está-se um contra um, tem regras, tem um árbitro, tem audiência, nós estamos completamente protegidos e há golpes que não se podem utilizar. Achei que, de facto, o Keysi era mais virado para o que eu precisava como segurança. Não há regras na rua e o Keysi é isso, um método de luta urbano. Abriu-me novos horizontes e percebi que era o que queria fazer, o que gosto de fazer e é o que se adequa melhor a mim e à minha atividade profissional. Portanto, é mesmo isso, estar em alerta e preparados para lutar em qualquer ambiente, contra mais do que um oponente. 

É tão eficiente contra um como contra vários adversários?

Posso dizer que é muito eficiente contra um e é bastante eficiente contra vários porque nos mantém alerta. Sabemos reconhecer o meio onde estamos, reconhecer quando temos dois ou três ou mais adversários. É um método de reconhecimento próprio que bem utilizado, bem aprendido, é, sem dúvida, uma boa defesa pessoal para a realidade, para o conceito real de rua.

É um ponto importante, esse estado de alerta?

Sim, é o estado de alerta e o sentido de observação do que nos rodeia.

O Keysi baseia-se muito nos movimentos corporais e na agilidade e, principalmente, nos cotovelos. Qual a importância dos cotovelos no Keysi?

O Keysi utiliza muito os cotovelos porque são uma das partes mais duras do nosso corpo e servem para nos ajudar a defender de vários golpes, seja de punhos, de pontapés, etc. E servem não só para esta defesa mas também para entrar ao ataque já que é mais eficaz e danoso que um murro.

O que diferencia o Keysi dos outros métodos de defesa pessoal que existem?

Ora, além de ter praticado Karaté e Savate, conheci outros estilos de defesa pessoal e artes marciais. Vi que muitos eram baseados em mitos, em aulas de dojo e muito pouco na realidade do que pode acontecer. Há várias modalidades que considero enganosas porque acabam por criar mitos nas pessoas, coisa que o Keysi não faz. Não se passa num ringue ou em cima de tatamis, onde há regras. É baseado na realidade da rua, é da rua para a rua. O Keysi alerta-nos para isso.

Foi para isso que foi criado, uma preparação para uma realidade que nos pode atingir?

Exato, o Keysi é muito ligado à realidade. Foi criado pelo Justo Dieguez, alguém que viu a necessidade de criar uma luta de defesa pessoal urbana que não fosse baseada em fantasias mas sim adaptada à rua, à realidade do que nos pode acontecer no dia-a-dia, na rua, bares, discotecas, no cinema, em casa e em muitas outras situações.

Qualquer pessoa pode praticar?

Qualquer pessoa pode praticar Keysi. Qualquer pessoa que nunca praticou artes marciais ou uma pessoa que venha de outros métodos de luta pode aprender Keysi. É para todos, mulheres, homens e crianças. Claro que o primeiro passo, o mais importante, é reconhecer as capacidades do nosso corpo e, a partir daí, desenvolvê-las.

Defesa pessoal e artes marciais são muitas vezes confundidos. Quais são as diferenças entre estes dois tipos de luta?

A defesa pessoal não tem regras, não há limites de contacto nem de força. Um desporto de combate ou as artes marciais são isso mesmo, um desporto onde há um árbitro, onde há dois adversários, todos estão equipados a rigor, têm proteções e, dependendo da modalidade, há regras como, por exemplo, não poder bater com os joelhos ou com os cotovelos, não poder haver manipulações de braços, etc. Na defesa pessoal, desde que seja uma boa defesa pessoal, é adaptada ao meio ambiente porque na rua, quando nos querem atacar, não há regras.

Como é a estrutura dentro do Keysi, a hierarquia?

O Keysi tem o fundador, o criador do método de luta Keysi, que é o Justo Dieguez. Depois dele há a KIT (Keysi International Team), uma equipa composta por membros que ele achou que seriam os melhores instrutores para divulgar o Keysi pelo mundo e da qual eu muito orgulhosamente faço parte. A equipa é o braço direito e o braço esquerdo do Justo, é ela que leva e espalha o Keysi pelo mundo - já está implantado em 14 países - e sempre que há formações há a presença do Justo ou dos elemenots da KIT. Abaixo desta equipa internacional estão os instrutores que começam pelo DIMA, que são os vários níveis de formação dos instrutores - começa no DIMA 1, segue para o 2, depois 3 e 4 até ao 5.

Que etapas teve que ultrapassar para chegar a Master Instructor?

Foram várias etapas. Apesar de já ter sido atleta de outras modalidades comecei no DIMA 1. Em 5 anos fiz os 5 DIMA obrigatórios que abrangem desde movimentos de punhos e pernas a técnicas com bastões e facas. No fim do DIMA 5 fui reconhecido, não só pelo que fiz mas como alguém que encarna o espírito da família Keysi, e fui convidado para a KIT, pedido ao qual acedi e, também a convite do Justo, tornei-me o responsável nacional pelo Keysi.

Qual o seu papel como responsável nacional?

Além de dar aulas, formar instrutores e dar a conhecer o Keysi em todo o país, promovendo sessões de workshops, seminários e orientar e tirar dúvidas a todos os que queiram conhecer e aprender Keysi, seja para seguir a vertente de instrutor ou ser apenas aluno, ou seja, fornecer todas as ferramentas necessárias para progredirem no Keysi.

Na sua experiência, quem procura mais o Keysi?

Tenho tido, cada vez mais, vários colegas de outros desportos de combate e artes marciais que procuram o Keysi e também muitos alunos das forças policiais. Já fomos procurados por elementos do corpo de intervenção da PSP e da GNR porque eles precisam de uma defesa pessoal efetiva já que estão sujeitos a uma grande pressão e a várias situações de atrito onde têm que estar bem preparados para o conceito da rua, do real. Também somos procurados por muitas mulheres que querem aprender a defender-se. Mas, a maior parte são pessoas que querem um aumento de confiança nelas próprias.

O que significa para si ser instrutor?

Para mim... o que significa? É um estado, é algo que gosto, que me dá prazer de fazer, ensinar e transmitir os ensinamentos do Justo, munir as pessoas de uma base sólida de defesa pessoal. Alegra-me quando tenho alunos e alunas que chegam com uma autoestima e autoconfiança negativa e, ao fim de dois ou três meses, já se nota uma grande diferença, isso dá-me ânimo para continuar a dar aulas.

Então pode-se dizer que, para além da defesa pessoal, o Keysi traz outros benefícios?

Sim, traz. É uma modalidade de defesa pessoal que mexe estruturalmente com o corpo todo, e em termos de cardio é muito bom, tanto que já temos atletas de Strongman que fazem a parte de preparação de Keysi para melhorarem a parte cardio. Depois a autoestima, a autoconfiança, a crença neles próprios, o reconhecimento das capacidades do próprio corpo, tudo isso está englobado nos ensinamentos do keysi.

É isso que procura passar aos seus alunos?

Claro. Mais do que defesa pessoal, o objetivo é que as pessoas aprendam a reconhecer-se, a reconhecer as capacidades dos seus próprios corpos pois conseguem fazer mais do que pensam e o corpo está preparado para nos surpreender a qualquer momento.

Esteve, recentemente, num evento do Keysi, em Espanha. Que eventos estão associados ao Keysi?

Há vários tipos de eventos. O maior é a conferência mundial, organizada uma vez por ano. Por norma, são sempre em Espanha, onde nasceu o Keysi. A conferência tende a juntar o máximo de instrutores de todo o mundo, para todos se conhecerem, treinarem uns com os outros e criar um ambiente familiar onde há jantar de gala, entrega de certificados e diplomas. Reina sempre a alegria e o prazer de estarmos uns com os outros porque é bonito estarmos numa conferência onde estão representados vários países. E uma das melhores partes é ver como o Keysi se adapta de país para país, ver como pessoas diferentes, de sítios diferentes, aprendem e apreendem o Keysi e como o lecionam.

Há, portanto, uma partilha de experiências. A conferência nunca é igual...

Há a partilha de experiências e de conhecimento, sempre. Todos os anos são coisas diferentes que aprendemos e treinamos e é bom por isso mesmo, pela partilha, pela amizade, pelo conhecimento e pelo reconhecimento da família Keysi. Porque o Keysi é uma família, desde o Justo Dieguez que é um mestre e, para mim, uma pessoa excecional. Nas outras modalidades estamos habituados a ter mestres ou senseis e há um patamar que os distingue dos outros. O Justo não, é uma pesssoa simples que toda a gente trata por tu.

Não há, portanto, um grande grau de formalidade?

Não. É óbvio que há um grau de respeito, sempre. Não deixa de ser quem é, uma pessoa que treinou 20 anos com um dos melhores atletas de artes marciais que existem e que foi aluno do Bruce Lee, o mestre Dan Inosanto.

Há mais eventos para além da conferência?

Há os seminários de graduação e exames que são só para os instrutores. São, normalmente três dias, em que 18 horas são de treino intenso que culmina num teste. Nos seminários temos sempre uma tarde, que chamamos "Open", aberta a todos: instrutores, alunos de Keysi e para aqueles que nunca praticaram e queiram conhecer. Depois também há os workshops que são para qualquer pessoa e dependem do objetivo e do esperado pelas pessoas que podem pedir orientação para uma situação específica como a violência doméstica, defender contra um ladrão, fugir de um ataque...

O Keysi tem alguma vertente competitiva?

Não, não há torneios. Está a ser estudada a possibilidade, no futuro, de criar um torneio mas, claro, ainda há pontos a estudar e muito a ponderar porque o Keysi não tem regras, é uma defesa pessoal mas, quando é usado para ataque, tem ataques muito perigosos sendo que já há atletas de MMA e atletas que lutam no UFC que já aplicam muitas técnicas de Keysi. Há, hoje em dia, muitos atletas de alta competição a utilizar o Keysi.

Qual é o golpe mais perigoso do Keysi?

Nós temos muitos golpes perigosos sendo que um dos mais perigosos, simples e muito direto, é o que nós chamamos um "pensacodo directu", é uma cotovelada direta ao externo, provocando um dano muito grave em quem o recebe. São golpes muito rápidos, muito eficazes, diretos ao ponto que queremos. Mas, basicamente, todos os movimentos que impliquem ataque de cotovelos diretos podem ser considerados muito perigosos.

Quanto tempo leva a dominar o método Keysi?

Isso não pode ser medido, varia de pessoa para pessoa, cada um é diferente e pode haver alunos que demorem um ano a aprender uma certa técnica e outros que demorem um mês a aprender essa mesma técnica. É importante entender que não é o aluno que se adapta ao instrutor, tem de ser o instrutor a adaptar-se aos alunos que tem e cada aluno tem de ser tratado como um só e não como um todo, por isso, é muito relativo, é de aluno para aluno, depende da sua mobilidade, rapidez, absorção dos ensinamentos e técnicas.

É verdade que há uma certa restrição nos vídeos disponíveis online do Keysi?

Todos os vídeos têm que passar pelo que chamamos a "oficina", em Espanha. O Justo, a sua filha Jessie e o Bogdan Suciu são os que aprovam os vídeos exatamente para não aparecerem vídeos com movimentos incorretos que induzem as pessoas em erro numa eventual situação real de perigo.

O Keysi não é muito falado em Portugal. Porquê?

Em primeiro lugar, porque o país é regido por demasias regras e o Keysi, para crescer, precisa de ser reconhecido pelo IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude). Em segundo, o Keysi não está inclinado para a parte comercial, na venda de um produto, digamos assim, como aconteceu nestes últimos anos, por exemplo, com o Krav Maga aqui no país. Isso pode resultar numa abundância de instrutores, sendo que uns são bons e outros maus. O Keysi quer tentar estar em todos os países, mas quer ser consistente. Seria muito fácil vender o Keysi se oferecêssemos seminários ou graduações, como alguns fazem, pela internet.

Que eventos futuros podemos esperar do Keysi?

Vai haver uma conferência internacional em setembro, dias 19, 20 e 21, em Valência. Vai juntar os instrutores de todo o mundo e os membros da KIT. Há também vários seminários em todo o mundo com várias datas. Aqui em Portugal vamos ter em julho um seminário de graduações e exames.

 

Keysi Fighting Method
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Ler 15386 vezes Modificado em domingo, 01 março 2020 13:51
Sara Ribeiro

Redatora Principal

"Tomei o gosto pelas palavras bem cedo.
Encantada por todas as leituras e escritas que passaram e continuam a passar por mim, o meu percurso inevitável em Comunicação guiou-me até aqui.
Continuarei, para sempre, enamorada pelo poder da informação e pela liberdade que ela respira."