Fazer uma tempestade num copo de água, quem nunca fez?
Imagine uma pessoa que acabou de comprar o último scone que tanto queria. Enquanto pode ficar até um pouco chateada internamente, não vai começar a gritar nem a bater com os punhos no balcão, não é?
Agora pense, já esteve em casa e irritou-se de tal maneira com alguma coisinha que bateu nalgum sítio com os punhos, seja na cama, porta ou mesa? Nesse momento, esteve desregulada emocionalmente.
Mas repare que isso faz de si, e de todos nós, humanos. Contudo, quando este tipo de reações acontecem frequentemente, e são intensas e longas, é um sinal de que algo pode estar errado. E, a verdade é que, se nós, pessoas adultas o fazemos, é normal que as crianças, mais espontâneas e sem um sentido de auto regulação emocional, o façam também.
É a chamada desregulação emocional. E a tendência é mesmo que cada vez mais crianças sofram com este distúrbio.
A desregulação emocional, de acordo com os especialistas de saúde, refere-se à incapacidade frequente de uma pessoa em regular as suas respostas e reações a certos estímulos, ou seja, a consistente resposta extrema a pequenos gatilhos.
A pergunta é, então, o que é esta desregulação emocional nas crianças e qual a sua importância?
Sabe-se que a regulação emocional desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da personalidade e contribui para um sentimento de conforto e segurança no mundo, o que leva, por sua vez, à autoconfiança e à aquisição de competências.
Quando as crianças apresentam problemas de processamento sensorial, por exemplo, e estes ficam por tratar (pense em sensibilidade ao ruído ou ao toque), estes podem levar a uma desregulação contínua. Consequentemente, a criança pode acabar por se sentir desconfortável no seu próprio corpo.
Isto, por seu lado, pode levar à impulsividade, distúrbios alimentares, ansiedade, depressão, dificuldades em entender regras sociais e a padrões de pensamento rígidos.
Mas como identificar a diferença entre uma birra e desregulação emocional?
Como já foi referido, a maior distinção prende-se com a regularidade dos eventos, a duração e a intensidade, mas a capacidade de recuperar também é um factor.
Se o seu filho faz uma birra de lés a lés, aprenda a lidar e a parar a birra. Se considera que as ações e reações do seu pequeno estão a perturbar a relação entre pais-filho e a interferir no bem estar da família, pode estar na altura de intervir.
Segundo uma terapeuta americana, Judy Katz, esteja atenta a episódios que ocorram mais de cinco vezes por semana na escola, mais de 20 a 30 vezes em casa num mês. Repare em factores como agressão ou lesões autoprovocadas.
Consulte um profissional de saúde que a vai ajudar a perceber a diferença entre determinados comportamentos típicos de crianças, como ficar amuado por perder um jogo ou não querer partilhar um brinquedo, e outros comportamentos mais extremos, como prender-se na casa de banho para não ir às aulas ou fazer birras todos os dias.
A regulação emocional pode-se praticar em casa e faz-se quando se nota, monitoriza, reconhece e adapta-se as emoções de acordo com as situações com que nos deparamos.
E repare que, o primeiro requisito para ser uma pessoa emocionalmente inteligente, isto é, uma pessoa com a capacidade de perceber os sentimentos e emoções dos outros, distingui-los e usar essa informação para facilitar o seu processo de pensamento, resolver problemas e agir, é a regulação emocional.
Uma criança com capacidade de regulação emocional tem uma maior resiliência e uma maior adaptação a estímulos de stress, tanto em casa como na escola, e tem ainda maiores habilidades sociais. Também a performance escolar tende a ser melhor em crianças que não sofrem de desregulação emocional.