Fátima Vital, actualmente com 44 anos, professora e mãe de dois filhos, com garra digna de uma verdadeira guerreira, após lhe ter sido diagnosticado um cancro aos 37 anos de idade, acreditou que tudo era possível: lutou contra a doença, contra o excesso de peso e reergueu-se.
Como é que descobriu que tinha um problema de saúde? Qual foi o primeiro pensamento que teve?
Num contexto bastante difícil, pois a minha mãe tinha acabado de fazer tratamentos de quimioterapia quando dei entrada no hospital em Santarém com uma dor forte, onde nada me foi diagnosticado. A dor voltou e dei entrada uma segunda vez no hospital. Foi aí que me fizeram uma ecografia abdominal e viram uma mancha suspeita. Nesse mesmo dia o médico que operou a minha mãe deu-me o diagnóstico que eu tanto temia. Apesar de ter caído em prantos, não só pelo meu problema mas por tudo que tinha vivido com a doença da minha mãe, acreditei que seria possível sobreviver tal como ela.
Depois de receber a notícia, como se preparou para enfrentar a doença?
Não preparei, simplesmente vivi. Era o final do primeiro período lectivo e tinha que apresentar a festa de Natal com as crianças e cumprir com as minhas obrigações enquanto professora. Deixei as notas entregues e trabalhei até dar entrada no hospital para a cirurgia.
Onde se encontra força e coragem para lidar com estas situações? Teve apoio das pessoas que a rodeavam?
Não é fácil, foram momentos muito difíceis e dolorosos, especialmente a quimioterapia. Mas olhar para o sorriso dos meus filhos e para os olhos deles ajudou-me imenso a suportar e a ter vontade de lutar. Se tive ajuda de quem me rodeava? Claro. O meu marido foi incansável, esteve sempre presente e ajudou-me imenso a superar essa fase. O tempo que estive em casa sem trabalhar e praticamente sozinha foi desesperador, pois os miúdos estavam na escola, o meu marido ia trabalhar e era nesses momentos que a mente me pregava partidas e tinha crises de choro.
O que mudou na sua forma de ver a vida? Os seus objectivos de vida mudaram?
Mudou tudo. Deixei de ser a pessoa que só vivia para os outros, de me preocupar tanto em agradar os outros e passei a viver mais para mim e para a minha família. Passei a dar mais tempo a mim mesma, fazer menos caso das limpezas, de roupas, de casa... Passei a desfrutar de cada segundo. Se os meus objetivos de vida mudaram? Mudaram todos. Agora, realmente quero mesmo viver. Viver, porque até à altura acho que o que fazia, e é o que nós todos fazemos um pouco, era sobreviver, e de há uns anos a esta parte o que eu faço é realmente viver. Viver no bom sentido da palavra.
Considera que havia uma Fátima antes da doença e que agora existe uma nova Fátima, uma nova mulher?
Sim, considero que hoje em dia haja uma nova Fátima. Não uma nova Fátima depois da provação, talvez uma nova Fátima depois da dieta, talvez seja isso. Mas sim, muita coisa mudou, era completamente diferente. Tinha objetivos de vida totalmente diferentes dos atuais. Hoje, o principal objetivo de vida é mesmo "viver". Viver saudável, viver bem. Aproveitar cada momento desta vida, todos os pormenores... Dar valor a pequenos detalhes, que não dava. Dava valor a muito pouca coisa, tinha uma baixa autoestima, não era capaz de me valorizar em nada e hoje em dia consigo valorizar-me em cada pormenor. Sim, uma nova Fátima, sem dúvida.
Existe algo de positivo a reter de todo este processo?
Claro que sim. Descobrir que quando temos que ser fortes, somos mesmo. E eu sou isso, sou forte. Assim como descobrir que quando queremos alguma coisa, vamos à luta. E eu fui. Cada dia que passou foi um dia de luta. Sobrevivi e estou cá para contar a história.
A perda de peso foi outra das suas lutas. Como surgiu essa necessidade?
A perda de peso foi sem dúvida outra grande batalha depois de várias dietas sem sentido. Na dieta que fiz, quando tinha o meu filho mais velho 6 anos, chegava a estar um dia inteiro com 1,5L de água com limão e uma maçã e, à noite, comia umas tostas com uma fatia de queijo. Isso foi a minha alimentação. Reduzi o peso de 75kg para 45kg, estava subnutrida, estava muito magra mas olhava-me ao espelho e achava que estava bem, até ao dia em que a minha mãe me viu sem roupa e obrigou-me a ir ao médico. Não é fácil emagrecer, estar com várias tentações ao longo do dia e as pessoas não acreditarem que tu consegues. Depois há também aquela fase em que já perdeste 5kg, sabes que perdeste mas ninguém vê porque realmente é muito pouco para o peso que tinhas e começam a dizer "não sei porque é que andas a fazer isso, não perdes peso nenhum". Essa fase é altamente desmotivante porque foi muitas vezes nessa fase que eu desisti. Faz agora dois anos que me incentivaram a instalar o Instagram e a verdade é que conheci virtualmente excelentes pessoas e aprendi imenso com elas, desde alimentação, nutrição, treino e formas de fazer uma dieta saudável e constante. Era mesmo isso que estava a precisar.
Mudou o seu estilo de alimentação. Quais foram as maiores mudanças alimentares?
Renasci alimentarmente, é esta a expressão. Mudou tudo. Hidratos de carbono são poucos ou nenhuns e não há refrigerantes. Haviam muitos bolos e doces cá em casa - sou muito gulosa - e apesar de toda esta alimentação ser mais controlada, há sempre o bolinho de domingo mas, bolo saudável que para quem é guloso sempre vai "matando ali um bichinho".
Quem a acompanha diariamente nas redes sociais conhece a sua força de vontade e que não é de falhar a um treino. Como consegue conciliar o exercício físico com a vida familiar e profissional?
Numa conversa alguém me disse uma frase que se aplica a mim: as mulheres sao exímias em conciliar tudo. É um pouco isso. Claro que deixei muita coisa para trás. Já não há a quinta do FarmVille para jogar, há muitas vezes roupa dentro do cesto para passar, mas falhar um treino, isso não falho. Não falho porque arrepia-me pensar que posso regressar ao outro lado, que é aquele que ninguém te aceita, em que és gorda e não passas disso. Deste lado sinto-me aceite, consigo andar de cabeça erguida, gostar de mim e sentir que os outros gostem de mim. A nível profissional é muito mais fácil interagir com toda a gente à minha volta, muito mais fácil fazer amizades e ser socialmente aceite.
A Fátima é uma presença assídua nas redes sociais, especialmente no Instagram. Como é que isso influencia a sua vida?
O Instagram mudou a minha vida. Aprendi muita coisa e falo com pessoas extraordinárias, com experiências de vida idênticas à minha. Vejo testemunhos de pessoas que realmente são guerreiras, mas guerreiras no bom sentido da palavra, não perderam 25kg como eu mas perderam 50kg e isso sim, são batalhas; isso sim são mudanças de vida e, mesmo a nível de treino, aprendi imensa coisa que desconhecia. Aprendi a gostar de fazer desporto pois era uma das coisas que detestava. Achava ridículo as pessoas perderem imenso tempo no ginásio, sem ver tv, sem estar sentadas no sofá, sem comer um gelado, um bolo, coisas que hoje em dia não faço. Agora há tempo para aquilo que eu gosto, que me faz sentir bem.
Já deve ter dado conta que a sua boa disposição diária e as suas mensagens motivam muita gente. Que significado tem para si?
É um orgulho! A rede social para mim é isso, é motivar gente e ter boa disposição. Longe de ser apenas um muro de lamentações, onde te queixas da vida e dos outros, onde falas de morte e doenças. Isso é um pouco o que encontrava no Facebook do qual me fui afastando. Acho que a rede social é para passarmos um bom momento, estarmos uns minutos a interagir, bem dispostos, a ser motivados e se motivarmos os outros, ainda melhor. Acho incrível como é que consigo motivar alguém quando há pessoas tão extraordinárias, bem mais do que eu, sou tão pequenina ao pé dessas pessoas... Mas fico muito feliz, mesmo muito, quando me deixam uma mensagem, quando me motivam e quando me dizem que sou a inspiração delas, isso é uma loucura! O que aprendi ao longo destes anos é que realmente cada pessoa é uma pessoa e não há dietas nem comprimidos milagrosos. Temos que ir à luta, temos que batalhar, temos que nos esforçar diariamente e temos que ser nós mesmo a criar o nosso estilo de vida. Acreditar é a base porque nós somos grandes, conseguimos tudo o que queremos. Todo o ser humano mas as mulheres em especial pois quando uma mulher quer uma coisa, ui, "sai de baixo" realmente nós conseguimos, isso sem dúvida. Não estou nada arrependida da minha mudança e gostava imenso de transmitir que é possível, custa muito é verdade, mas basta acreditar.Quando nos olhamos ao espelho, o resultado final é fenomenal, por isso, arrisquem!