sexta, 30 novembro 2018 21:46

As dietas da moda

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São incontáveis as dietas da modernidade. Posso enumerar várias, só de memória: macrobiótica, crudivorismo (raw food), dieta do grupo sanguíneo, dieta cetogénica, dieta vegetariana, dieta vegana, dieta de restrição calórica, dieta anti-inflamatória e anticancro, dieta paleolítica, dieta FODMAP, dieta alcalina, dieta de Londres…

Muitas vezes sou interrogado: “Qual a melhor dieta?”; “Comer este alimento faz mal?”; “O que devo comer?”; “O que não devo comer?”.

Respondo invariavelmente da mesma forma — se estivermos de plena saúde física, emocional, familiar, social e espiritual, sem bloqueios, medos ou crenças demasiado enraizadas, todos os regimes alimentares são, modo geral, aceitáveis. O nosso corpo tem a capacidade de “sentir” o que nos é mais ou menos benéfico. Não obstante, quando surgem desequilíbrios orgânicos podemos optar por uma ou outra dieta em particular.

Existe um senão — as redes sociais, a Internet e a tecnologia em geral induzem-nos a sensação de estarmos num apogeu de informação. Parece-me, contudo, que nos encontramos, paradoxalmente, numa descomunal encruzilhada de desinformação… É mandatória uma pesquisa profunda, consultando especialistas em nutrição, quando pretendemos fazer alterações significativas na nossa alimentação.

A macrobiótica, de origem japonesa, com raízes nos fundamentos da filosofia energética do yin e yang, bem implantada em Portugal, pode ser considerada uma excelente opção. Não sendo meramente uma dieta alimentar, mais um modo de vida, é ética para os animais e as plantas. Não obstante, os mais céticos apontam a elevada percentagem de hidratos de carbono e o uso exagerado de cereais, embora integrais, e glúten (seitan) como pontos negativos, alegando grande aporte de calorias e a probabilidade de prejudicar a integridade intestinal, respetivamente.

Os vegetarianos e veganos, por questões éticas, ideológicas, emocionais, religiosas, filosóficas ou ambientais, prescindem parcial ou totalmente da proteína animal. Muitas vezes associada à macrobiótica, é amiúde criticada pela possível falência em nutrientes essenciais à salubridade do organismo, como o DHA — ácido gordo polinsaturado do tipo ómega 3, presente na retina e células nervosas, altamente anti-inflamatório —, proteínas de alto valor biológico, ricas em aminoácidos sulfurados, ferro e a vitamina B12 (cianocobalamina). Totalmente aceitável, do meu ponto de vista, se bem suplementada com os nutrientes deficitários e devidamente equilibrada com vitamina C e boas proporções entre leguminosas e cereais.

O crudivorismo consiste em comer os alimentos (vegetais) crus, como faziam os nossos antepassados recoletores, antes de descobrirem o fogo. Podem ser processados com robot de cozinha ou liquidificadores por forma a apresentá-los em pratos vistosos e coloridos. Afinal, “os olhos” também “comem”…

Aqui abro um parêntesis — a capacidade intelectual do ser humano evoluiu precisamente após a descoberta do fogo, pois este permitia uma mais rápida absorção de glicose e um menor consumo energético para a digestão (Expensive Tissue Hypothesis). Recuando um pouco na linha temporal da evolução humana, também verificamos que os primeiros hominídeos no continente africano (Australopithecus afarensis — lago Turkana — África), quando começaram a introduzir na alimentação moluscos e outros bivalves — ricos em DHA, vitamina A, iodo e vitamina D —, revolucionaram positivamente a sua morfologia e fisiologia cerebral. Resumindo: glicose / fogo + DHA (ómega 3 do peixe e plâncton) = maior inteligência.

Os crudívoros baseiam-se na famigerada “regra do pintainho”. Diz a tal regra que, se, na confeção das refeições, não ultrapassarmos a temperatura de 45ºC, que é a temperatura em que o “pintainho” pode suar, passar mal — mas não morre —, está tudo bem. É obviamente uma metáfora, mas explica muito bem o facto de a partir de 45ºC alguns nutrientes como os ácidos gordos polinsaturados, algumas enzimas e vitaminas poderem “morrer” ao ser “cozinhados”, perdendo as suas propriedades nutritivas e terapêuticas. É mais do que uma dieta, é uma filosofia de vida. Conheço muitos casos de pessoas que começaram a praticar esta dieta de forma parcial ou integral e conseguiram remissões de patologias sérias como doenças autoimunes, crónicas e inflamatórias. Vale a pena considerá-la em situações limite. Pode ser incluída em dietas anti-inflamatórias e anticancro, como a dieta de Kousmine, ou em retiros de desintoxicação, com excelentes resultados.

A paleodieta, uma das minhas favoritas, teria tudo para ser ideal. Agrada-me o conceito de comer apenas quando sentimos “fome real” — quando estamos mesmo com muito apetite. Agrada-me a redução do número de refeições diárias para três ou mesmo duas, defendendo-nos contra a perniciosa resistência à insulina. Agrada-me a interdição ao aquecimento dos óleos de primeira pressão a frio. Agrada-me a atenção dedicada a rejeitar alimentos com antinutrientes, como as solanáceas contendo solaninas ou leguminosas contendo lectinas, ácido fítico, inibidores da tripsina e saponinas, e alimentos potenciadores de eventuais intolerâncias ou alergias como o leite de vaca processado e o trigo (moderno) de seara curta rico em glúten. Todavia, do meu ponto de vista, peca pelo excesso de proteína animal, ainda que de caça ou de origem biológica.

Ler 3230 vezes Modificado em quinta, 02 abril 2020 22:34
Ricardo Novais

Ricardo Novais é naturopata. Licenciado em Ciências Farmacêuticas, com pós-especialização em Análises Clínicas e detentor de pós-graduações em Terapias Naturais e Complementares e Acupuntura Integrativa, Ricardo dá aulas de farmacologia e nutrição integrativa em várias escolas de saúde do país.

O seu percurso pela saúde preventiva começou há vários anos, com a convicção de que a base da nossa saúde está numa alimentação natural, ou seja, o menos processada possível, aliada ao exercício físico e à eliminação/redução do stress diário. Tentando voltar à Mãe Natureza, conseguiu integrar os seus conhecimentos científicos com o poder curativo da Terra, proporcionando alternativas a nível alimentar, nutricional, e terapêutico.

Rúbrica “Cozinhar com amor, naturalmente…”

Mercê de um estilo de vida moderno, o ser humano passou a estar mais sujeito aos tóxicos externos, provenientes da poluição do ecossistema, da alimentação industrial, processada, e do uso exacerbado de medicamentos e aos tóxicos internos, produzidos pelo organismo quando se encontra em permanente stresse.
Devemos saber reconhecer os sinais que o corpo evidencia quando começa a ficar sem capacidade de eliminar os excessos. Devemos estar alertas para os perigos que podem sobrevir dessa intoxicação.
É fundamental conhecermos as ferramentas adequadas para favorecer a eliminação dos resíduos acumulados a nível celular e tecidular.
Da paleodieta ao crudivorismo, vamos mostrar comida simples e fácil de confecionar. Com um enfoque na conjugação de nutrientes e sabores e na transformação acertada dos alimentos, vamos proporcionar a melhoria da digestão, otimizar a assimilação dos macro e micronutrientes, potenciando assim a performance do corpo humano e a eliminação das toxinas.
Tudo sem abrir mão duma gastronomia rica e saborosa.