Muitas vezes sou interrogado: “Qual a melhor dieta?”; “Comer este alimento faz mal?”; “O que devo comer?”; “O que não devo comer?”.
Respondo invariavelmente da mesma forma — se estivermos de plena saúde física, emocional, familiar, social e espiritual, sem bloqueios, medos ou crenças demasiado enraizadas, todos os regimes alimentares são, modo geral, aceitáveis. O nosso corpo tem a capacidade de “sentir” o que nos é mais ou menos benéfico. Não obstante, quando surgem desequilíbrios orgânicos podemos optar por uma ou outra dieta em particular.
Existe um senão — as redes sociais, a Internet e a tecnologia em geral induzem-nos a sensação de estarmos num apogeu de informação. Parece-me, contudo, que nos encontramos, paradoxalmente, numa descomunal encruzilhada de desinformação… É mandatória uma pesquisa profunda, consultando especialistas em nutrição, quando pretendemos fazer alterações significativas na nossa alimentação.
A macrobiótica, de origem japonesa, com raízes nos fundamentos da filosofia energética do yin e yang, bem implantada em Portugal, pode ser considerada uma excelente opção. Não sendo meramente uma dieta alimentar, mais um modo de vida, é ética para os animais e as plantas. Não obstante, os mais céticos apontam a elevada percentagem de hidratos de carbono e o uso exagerado de cereais, embora integrais, e glúten (seitan) como pontos negativos, alegando grande aporte de calorias e a probabilidade de prejudicar a integridade intestinal, respetivamente.
Os vegetarianos e veganos, por questões éticas, ideológicas, emocionais, religiosas, filosóficas ou ambientais, prescindem parcial ou totalmente da proteína animal. Muitas vezes associada à macrobiótica, é amiúde criticada pela possível falência em nutrientes essenciais à salubridade do organismo, como o DHA — ácido gordo polinsaturado do tipo ómega 3, presente na retina e células nervosas, altamente anti-inflamatório —, proteínas de alto valor biológico, ricas em aminoácidos sulfurados, ferro e a vitamina B12 (cianocobalamina). Totalmente aceitável, do meu ponto de vista, se bem suplementada com os nutrientes deficitários e devidamente equilibrada com vitamina C e boas proporções entre leguminosas e cereais.
O crudivorismo consiste em comer os alimentos (vegetais) crus, como faziam os nossos antepassados recoletores, antes de descobrirem o fogo. Podem ser processados com robot de cozinha ou liquidificadores por forma a apresentá-los em pratos vistosos e coloridos. Afinal, “os olhos” também “comem”…
Aqui abro um parêntesis — a capacidade intelectual do ser humano evoluiu precisamente após a descoberta do fogo, pois este permitia uma mais rápida absorção de glicose e um menor consumo energético para a digestão (Expensive Tissue Hypothesis). Recuando um pouco na linha temporal da evolução humana, também verificamos que os primeiros hominídeos no continente africano (Australopithecus afarensis — lago Turkana — África), quando começaram a introduzir na alimentação moluscos e outros bivalves — ricos em DHA, vitamina A, iodo e vitamina D —, revolucionaram positivamente a sua morfologia e fisiologia cerebral. Resumindo: glicose / fogo + DHA (ómega 3 do peixe e plâncton) = maior inteligência.
Os crudívoros baseiam-se na famigerada “regra do pintainho”. Diz a tal regra que, se, na confeção das refeições, não ultrapassarmos a temperatura de 45ºC, que é a temperatura em que o “pintainho” pode suar, passar mal — mas não morre —, está tudo bem. É obviamente uma metáfora, mas explica muito bem o facto de a partir de 45ºC alguns nutrientes como os ácidos gordos polinsaturados, algumas enzimas e vitaminas poderem “morrer” ao ser “cozinhados”, perdendo as suas propriedades nutritivas e terapêuticas. É mais do que uma dieta, é uma filosofia de vida. Conheço muitos casos de pessoas que começaram a praticar esta dieta de forma parcial ou integral e conseguiram remissões de patologias sérias como doenças autoimunes, crónicas e inflamatórias. Vale a pena considerá-la em situações limite. Pode ser incluída em dietas anti-inflamatórias e anticancro, como a dieta de Kousmine, ou em retiros de desintoxicação, com excelentes resultados.
A paleodieta, uma das minhas favoritas, teria tudo para ser ideal. Agrada-me o conceito de comer apenas quando sentimos “fome real” — quando estamos mesmo com muito apetite. Agrada-me a redução do número de refeições diárias para três ou mesmo duas, defendendo-nos contra a perniciosa resistência à insulina. Agrada-me a interdição ao aquecimento dos óleos de primeira pressão a frio. Agrada-me a atenção dedicada a rejeitar alimentos com antinutrientes, como as solanáceas contendo solaninas ou leguminosas contendo lectinas, ácido fítico, inibidores da tripsina e saponinas, e alimentos potenciadores de eventuais intolerâncias ou alergias como o leite de vaca processado e o trigo (moderno) de seara curta rico em glúten. Todavia, do meu ponto de vista, peca pelo excesso de proteína animal, ainda que de caça ou de origem biológica.